#2 "Tá me ouvindo?"
Eu tinha 10 e tantos anos a primeira vez que houve um embate lógico com a linguagem. “Como é que vou me expressar?” pensava no auge dos meus dias voltando da escola no 410 - o ônibus que, junto com palavras-cruzadas e um tênis All Star, foram meus melhores amigos por muitos anos na infância.
Naquela época lembro que os pensamentos eram tantos que, em paralelo, todos eles sempre acompanhavam a pequena grande insegurança sobre se fazer compreendida ao mundo fora da minha cabeça. Não por acaso me formei na graduação em Comunicação Social.
aos oito anos
quando viajei sozinha a primeira vez
sabia que ali estaria eternamente apaixonada
pela adrenalina
da aventura
de viver
como uma grande sequência de experimentações
Desde então, o destino sempre muito sabido tem me proposto reconexões às memórias.
Nessa missão, depois de lembrar da receita de bolo (leia-se repertório emocional de experiências passadas), bato tudo em um grande liquidificador e avanço ao teste de um novo resultado. Embora isso soe muito bonito e inspirador, a realidade fora de palavras artísticas é um pouco mais básica, como se eu quisesse comer salada de frutas mas o mundo lá fora às vezes é só bolacha de água e sal.
Assim, falando sobre alimentação-tempo-decisões-controle, novamente, veja só: quem sou eu mediante à sabedoria da natureza?
Assim que estes pensamentos aparecem por SMS aos meus olhos, é o momento de viajar! Em lugares tampouco conhecidos na narrativa histórica, sempre descubro que o simples também funciona: quando água e sal não me são suficiente ou não estão disponíveis frutas favoritas da estação, me jogo nas fazendas-planaltos-esconderijos que sopram aos ouvidos como atualizar a paleta de cores do meu personagem social.
E pensando nas cores de outros seres vivos, passado e presente se encontram. Portanto, quais são as sensações que plantas podem me trazer? Decido testar:
“Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), plantas medicinais e fitoterápicos estão inseridos nas chamadas medicinas tradicionais, complementares e integrativas (MTCI), denominação que se refere um amplo conjunto de práticas de atenção à saúde baseado em teorias e experiências de diferentes culturas utilizadas para promoção da saúde, prevenção e recuperação, levando em consideração o ser integral em todas as suas dimensões.”
E, misturando viagens, plantas e um pouco de otimismo, vejo que é possível aprender a mesma linguagem por diferentes idiomas.
Afinal, um pé de banana pode me ensinar sobre tempo, maturidade, cuidado e bem-estar;
Tanto quanto a história de Cronos - representado por Saturno, o astro regente de 2024;
Um álbum repleto de storytelling do Racionais MCs;
Ou uma entrevista da Eliane Dias.
E, falando ainda sobre Saturno, estou aprendendo com todos estes outros agentes que nenhum estado é permanente. Mudar é obrigatório.
Por isso, às vezes nos dias nublados, ligo a amigos-terapeuta-desconhecidos para explicar novas ideias e dizer descobertas. Na bagunça do dia a dia, como boa libriana, dizer 1 (uma) frase usando somente 1 (um) idioma é um tanto quanto impossível ao meu olhar, mas torna tudo um pouco mais engraçado também.
CoMosE Eu eStIvEsSe _____ mE ExPrEsSaNdO @ssiM
E depois de pensar sobre tudo isso, ao final do dia desligo as ligações e FaceTime sorrindo um pouco com a certeza que permaneço consistente e confiante no processo.
Parece que fiquei meio maluca?
Tu tu tu….